Se sente exausto também? Quantos de nós pais não nos sentimos assim? Quantas desculpas genuínas temos para justificar nossas péssimas escolhas? Quanto tempo mais vamos continuar assim?
Por TIAGO MARQUES
Aí então vem a Momo e joga mais culpa pra cima de mim, porque eu não consigo controlar o que meus filhos assistem.
O que não posso negar, que se verdadeira ou não, a história da Momo me fez refletir bastante como educador e principalmente como pai. Ficamos assustados com os vídeos de influenciadores digitais alertando sobre a inserção de trechos da momo em vídeos infantis no YouTube Kids. Mas sabe o que mais nos assusta? A sensação de não termos controle sobre o que nossos filhos assistem, do que eles estão vendo e de como viemos parar nesta situação.
Como pai, estou exausto. Acordamos todos bem cedo lá em casa e já entramos de cabeça em uma rotina bem pesada. Todos os dias levanto mais cedo e saio de casa com meus filhos dormindo. E muitas vezes quando chego em casa já é noite e eles estão prontos pra dormir novamente (às vezes escorre uma lágrima, por que queria passar mais tempo com eles). Outras tantas vezes volto pro meu lar com mais trabalhos nas mãos e pra conseguir fazer, acho mais cômodo entregar o celular na mão do meu filho mais novo que na verdade só quer atenção, afinal, preciso cumprir todas minhas obrigações. Em algumas noites eu ainda tenho que rever a matéria com algum de meus filhos, por que no outro dia tem prova e não quero a frustração dele tirar notas baixas e eu me sentir um incompetente. No final de semana, outro filho tem campeonato (pois precisam praticar esportes, afinal todo mundo sabe disso). Enquanto ele joga vou responder mensagens, ler notícias (ou talvez jogar só um pouquinho pra me distrair, afinal, eu mereço). Mas depois, me sinto mal por não ter visto todos os lances da partida. Sei que preciso brincar mais com eles, porque se não ficam só no celular ou no videogame. Eles não sabem brincar sozinhos. E quando não posso, preciso promover momentos recreativos porque isso faz bem pra eles ( e todo mundo sabe disso). Por falta de tempo, às vezes eu pago por isto. A noite, quando eles deitam (depois de uma devocional bíblica é claro, afinal todo bom cristão sabe que isso é importante - quando a gente consegue fazer), eu posso “ser meu” por alguns minutos e coloco logo mais um episódio da minha série favorita enquanto minha esposa assiste um episódio da séria dela no cômodo ao lado. Assistir série é bom porque assim não penso muito. Normalmente durmo depois de 10 minutos de série, alguns dias em 5. Sei que o dia dela também não foi fácil. Ela merece ter um tempo só pra ela também. E nós estamos exaustos!
Aí então vem a Momo e joga mais culpa pra cima de mim, porque eu não consigo controlar o que meus filhos assistem. E eu cheio de remorso e culpa, preciso achar mais culpados pra dividir esse peso comigo: -Mas como o YouTube permitiu isso? -O Ministério Público não vai se manifestar? -Por que a escola não faz os meninos pararem de falar nessa Momo? -Essa internet… acho que vou mandar tirar ela de casa. -Se eu ficar sem internet como vou assistir minha série? -E se fosse meu filho uma das vítimas em Suzano? -Ou pior… se fosse meu filho o assassino. -Será que os pais dele não perceberam? Será que eu estou atento aos sinais? -Nossa! Preciso dormir, amanhã levanto às cinco. Ixi, não paguei a internet.
O texto acima é fictício mas baseado em muitas das minhas próprias lutas como homem, pai de três filhos e esposo. É uma crítica ao sistema caótico em que fomos aprisionados. Mas precisamos lembrar que Cristo no chamou para sermos livres. - "Portanto, se o Filho os libertar, vocês serão livres de fato - João 8:36. Eu sempre digo que o mundo só gira para um lado. E é pra frente. Não dá pra retornar e viver como antigamente, mas dá pra gente repensar nossas escolhas e lutar por uma mudança pro futuro. Está na hora de começarmos a mudar nossa maneira de pensar. Lembrem-se:
Não imitem o comportamento e os costumes deste mundo, mas deixem que Deus os transforme por meio de uma mudança em seu modo de pensar.
Só assim poderemos experimentar dias melhores. Vivenciando a BOA, PERFEITA E AGRADÁVEL (Romanos 12:2 - NVT)
*Tiago Marques é capelão escolar, casado e pai de três meninos.